Oficina Musical com Material Reciclável | LAPRAPE

Oficina Musical com Material Reciclável realizado pelos alunos de Pedagogia da Faculdade Novo Milênio.
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Por: Alessandro Sangiorgio da Silva, Faculdade Novo Milênio

Interações, Brincadeiras e Aprendizagem Ativa: Exploração da Linguagem Musical Utilizando Materiais Reutilizáveis

Utilizar oficinas como uma forma de promover aulas ativas é uma estratégia que pode maximizar as relações do grupo, promovendo interações entre os educandos e entre adultos e educandos, enriquecendo o processo de construção de conhecimentos, colocando os mesmos como agentes centrais e ativos do próprio aprendizado. Foi nessa perspectiva, que as professoras, Mestra Renata Santos Moreira Frechiani e a Coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Novo Milênio, Maria da Penha Fonseca e o Projeto EMDOREMI propuseram a realização de uma Oficina com crianças na qual os discentes de pedagogia do 4.º período deveriam planejar, organizar e executar a mesma, contando com a assistência mediadora da coordenação e da docente.


A Associação de Educação Musical Gercino Rodrigues Freitas — Emdoremi, é uma escola de educação musical, sem fins lucrativos, para crianças, jovens e adultos com aula de música. Dentre os objetivos do projeto, estão oferecer educação alternativa em bairros de periferia, buscando concorrer com abordagens violentas às quais muitas vezes estes sujeitos são submetidos. Além disso, preencher lacunas da educação regular, elevar a autoestima, e chamar atenção deles para o fato de que podem produzir algo diferente, produzir arte. O projeto que começou com aulas de canto e flauta doce, se expandiu e foram incluídas outras modalidades tais como piano, teclado e violão. A Associação conta com a parceria da Faculdade Novo Milênio que disponibiliza os espaços da mesma para o projeto.

O curso de Licenciatura em Pedagogia ofertado pela Faculdade Novo Milênio, tem como um dos seus objetivos utilizar Metodologias Ativas. Essa oficina foi possibilitada na área de conhecimento (Disciplina) Projeto Integrador. Durante o semestre letivo, os discentes são encorajados a desenvolverem projetos com os mais diversos temas. A proposta da Renata era de que a turma elaborasse propostas de oficinas que deveriam envolver música.

Aprendizagem e desenvolvimento é um tema que é frequentemente discorrido no curso de pedagogia, afinal, formar educadores que possam compreender como esse processo ocorre é fundamental. Uma ideia que tem se discutido muito é considerar sempre que o educando deve ser ativo nesse processo e não um mero expectador. Segundo Moran, 2018, as metodologias ativas contribuem para um aprofundamento das competências socioemocionais e novas práticas pedagógicas, utilizando-se de “problemas reais, desafios relevantes, jogos, atividades e leituras, valores fundamentais, combinando tempos individuais e tempos coletivos; projetos pessoais de vida e de aprendizagem e projetos em grupo”. Ainda segundo o autor, muitos teóricos, de diferentes gerações tais como Dewey (1950), Rogers (1973), Novack (1999), Freire (2009), apontam para essa necessidade.

Outra tendência em desenvolvimento na educação é o uso de múltiplas linguagens no dia a dia da criança. Segundo Vitória, 2010, por muito tempo, deu-se maior ênfase à oralidade e à escrita por razões históricas. No entanto, diversas linguagens foram se desenvolvendo e sendo integradas no cotidiano da sociedade, “desde os representados pelo brinquedo até os representados pela literatura, passando pela linguagem do teatro, do cinema, da mídia (televisão, rádio, jornal), da nova mídia (computador, jogos eletrônicos,...), das histórias em quadrinhos, dos álbuns de figurinha, da poesia, da ilustração.” Considerando que o contexto de vida social expõe o indivíduo a diversas linguagens, e que elas são amplamente difundidas nas mídias sociais, faz-se urgente o uso delas no processo de ensino aprendizagem. Além disso, oportuniza utilizar características próprias da criança tais como imaginação, ludicidade, simbolismo e representação.

Nesse sentido, tais práticas corroboram para uma educação integral. A Base Nacional Comum Curricular diz que (…) a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. (BNCC, 2018, pág. 14).
As múltiplas linguagens são de fundamental importância, pois contribuem no desenvolvimento integral da criança oportunizando a elas novas vivências, como se expressar melhor e explorar mais o ambiente no qual está inserida. As crianças precisam vivenciar novas experiências no espaço de educação infantil, ter oportunidade de desenvolver diferentes formas de sentir, pensar e solucionar problemas. (COSTA; SANTOS, 2017, p.716)
Os discentes escolheram o tema e a única condição seria envolver música na oficina. A ideia era produzir, com os educandos do projeto, instrumentos musicais a partir do reúso de materiais descartados. Dessa forma, construir conhecimentos que estimulem a sustentabilidade, explorar a linguagem musical e a percepção que a mesma está presente no cotidiano de todos, visto que é possível fazer música a partir de materiais descartados, com o corpo, com utensílios variados dentre outras possibilidades que a música fornece.

Além disso, incluir um Tema Integrador do Currículo Escolar do Estado do Espírito Santo que é a Educação Ambiental (TI03), em busca de “Construir propostas coletivas para um consumo mais consciente e criar soluções tecnológicas para o descarte adequado e a reutilização ou reciclagem de materiais consumidos na escola e/ou na vida cotidiana”, habilidade EF05CI05 da BNCC.

Para os estudantes de pedagogia, foi uma forma de participar da promoção de eventos cotidianos enquanto pedagogos em um processo de aprendizagem ativa. Durante o semestre, foram promovidas reuniões de grupos para discutir a ideia. A organização e registro de todas as questões que perpassam o projeto foram feitas a partir da ferramenta CANVAS SEBRAE e o 5W2H o que contribuiu para que os mesmo pudessem conhecer e interagir com ferramentas de gestão. Houve um encontro entre artes, pedagogia, gestão, educação ambiental possibilitando interdisciplinaridade através de um trabalho desenvolvido em grupo.

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Nas palavras das discentes a experiência foi inovadora e cheia de significados:

“A experiência sobre a prática no seminário integrador, foi muito divertida, engraçada, e ver o entusiasmo no rosto das crianças não tem preço”(...) ‌Eu particularmente nunca tinha feito nenhum instrumento com recicláveis, foi uma experiência nova, além de perceber que, com esforço e dedicação, somos capazes de fazer qualquer coisa, afirmou Priscila Santos Vaz da Silva.

Adrielle Ferraz dos Santos corrobora com a mesma percepção: “O projeto foi muito enriquecedor, pois tive uma experiência inovadora, que foi a criação de instrumentos musicais com materiais recicláveis, algo que eu nunca tinha feito”.

Barbara Beatriz Santos Nedes Duarte concorda com as outras duas e também destaca o caráter de aprender fazendo e de como planejar e fazer acontecer é satisfatório:
“No decorrer do curso são feitos diversos planejamentos e neste caso não foi diferente. Cada prática tinha sido planejada com certa antecedência e ver o que foi pensado tomando forma é algo satisfatório. Colocar a "mão na massa", auxiliar as crianças na confecção de tambores, que foi a mesa que fiquei responsável e vê- las empolgadas com suas criações foi muito gratificante.”
Elas fizeram correlações entre o evento, suas observações acerca das práticas, os métodos utilizados e a percepção dos educandos e as interações provocadas pelo projeto. Nas palavras de Priscila Santos Vaz da Silva:
“Compreender a realidade do estudante, ouvindo, observando suas dificuldades, medos e incertezas. Umas das crianças queria fazer o 'sapinho musical’, mas estava com medo, então expliquei que era só ele guardar na hora de dormir, ele fez e saiu radiante”.
Barbara Beatriz Santos Nedes Duarte fala de interações com crianças e pais, o que é algo cotidiano na prática docente em escolas de educação básica:

“Até mesmo a interação que tive com os pais de algumas crianças onde busquei deixá-los confortáveis enquanto esperavam foi enriquecedor”

“Já pelo olhar de futura pedagoga, foi sensacional poder colocar a criança como protagonista, algo tão falado em aula na faculdade, cada um criou um chocalho totalmente diferente do outro, a diversidade de materiais e opções permitiu essa análise, uma vez que as ensinamos surgiu uma pluralidade de possibilidades, fazendo com que o material produzido fosse muito autêntico.”
Houve também a construção de conhecimentos. Na introdução da oficina, Alessandro Sangiorgio da Silva fez articulações entre os conhecimentos dos educandos sobre os materiais recicláveis apresentados, a música e a existência deles no cotidiano e ampliação de seu uso, trazendo provocações de como eles podem ser usados para criar instrumentos musicais e utilizar em produções sonoras. Essa ideia é relatada pela Priscila Santos Vaz da Silva:
“Mostrar para elas o que podemos fazer com esses materiais e além disso transformá-los em instrumentos musicais, apresentando que as coisas que jogamos fora podem ser úteis e até se transformar em arte.”
Além da música, que é uma linguagem que pode ser amplamente utilizada na educação, a ludicidade é muito importante. Adrielle Ferraz dos Santos fez importante observação quanto a isso:
“Essa dinâmica, mostrou como o lúdico é uma grande ferramenta, não só para crianças, mas também para nós adultos, acredito que qualquer idade, trabalhando dessa forma se torna algo inesquecível, como o indivíduo aprendeu junto com uma experiência memorável, ele passará para os seus pais, seus irmãos, amigos, entre outros, e assim o conhecimento vai se propagando, agregando valores ecológicos, éticos, artísticos e muito mais.”
Ela também narra como a experiência a fez refletir sobre a própria existência e das sensações que a oficina provocou na mesma enquanto mediadora do processo:
“Conforme vamos chegando a vida adulta, vai se perdendo aquela "magia" de colocar a mão na massa, confeccionar materiais, criar algo colorido e divertido, então poder participar disso ensinando e produzindo ao mesmo tempo, trouxe esse prazer da infância de volta para mim”
Ademais, para Priscila Santos Vaz da Silva, os desafios que surgiram de forma inesperada no percurso, como chuvas fortes e o fato de não terem ido todas as crianças que esperávamos e formar “uma grande equipe” foi primordial para superação.
“Sou grata por essa experiência e já estou animada para a próxima, que também podemos falar sobre o consumismo.”
Barbara Beatriz Santos Nedes Duarte Diz que a proposta era realizar duas oficinas diferentes, no entanto, devido à coincidência na escolha do evento serem iguais, houve uma junção dos projetos em uma fase bem avançada, o que pode ter propiciado outros desafios.

Considera-se que as múltiplas linguagens alinhadas a metodologias ativas podem contribuir muito para promover aprendizagens e maximizar o desenvolvimento dos educandos, não apenas deles, mas pelo depoimento dos mediadores, pode-se inferir que ambas as partes constroem conhecimentos, como dizia Paulo Freire (1997): “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.” Com base nesses depoimentos, o construir conhecimentos, não se refere a questões cognitivas apenas, mas pode-se notar relações estéticas, afetivas e éticas em ambas as partes, promovendo tanto aos discentes quanto aos educandos do projeto, possibilidades de experienciar uma educação integral.